"Bug" do Milênio?
Postagem original:
Pit Stop Bahia, blog parceiro
O universo da tecnologia conhece muito bem essa expressão, que tornou-se o grande pesadelo da virada do século!
A incógnita sobre as consequências da entrada do ano 2000, em relação aos sistemas operacionais e programas que estavam limitados à contagem 1999, tirou o sono de muita gente da TI - Tecnologia da Informação - e milhares de usuários.
A expressão bug, no sentido de falha na programação, ganhou uma evidência mundial e conhecimento até para leigos.
Bug da Década?
Primeira expressão que ouvi e li sobre os rústicos veículos que, criados para as dunas californianas, iniciavam uma conquista mundial, de inegável simpatia e tremenda aceitação.
Lembro, como se fosse hoje, do encantamento causado pelo incrível "Besouro Verde" apresentado pelas páginas da revista Quatro Rodas, oferecido como Kit para revolucionar os Fuscas da época e ampliar os conceitos de diversão automotiva!
Quem tinha acesso às revistas importadas dos EUA - não era meu caso - já conheciam e sonhavam com o conceito, iniciado com a criação do Manx (em 1962) pelo californiano Bruce Meyers.
Criador e "criatura" - Foto: Hemmings.com
Esses leitores - uma minoria - já conheciam a expressão original:
Dune Buggy
O formato do Manx, um dos mais copiados no mundo, é uma referência desde sempre e até hoje!
Quem duvida, pode tentar lembrar do desenho animado (1973) do conceituado estúdio Hanna- Barbera, que chamava-se Speed Buggy e, curiosamente, tinha profunda semelhança com outra série de sucesso: Scooby-Doo
Alguns felizardos trouxeram os Kits na bagagem e espalharam o conceito pelo Brasil, até que a tradicional Glaspac adquiriu os direitos locais e tornou-se o primeiro "Buggy" fabricado no país!
A primeira menção que li sobre a expressão original foi na Revista AutoEsporte de 1969, que ajudou muito na popularização do conceito.
Scan: Site Lexicar Brasil
A matéria sobre o Bug - o "Besouro Verde" de minhas memórias - na Revista Quatro Rodas apresentava o primeiro exemplar nacional, desenhado pelo genial Anísio Campos (também pai do Puma). E o instigante conceito de Kit, que poderia renovar os Fuscas envelhecidos ou acidentados.
Vale lembrar que o Tropi Kadron foi o primeiro "Bug" nacional registrado no GEIA - Grupo Executivo da Indústria Automotora.
Claro que a juventude da época comprou a idéia, pela sensação de liberdade, investimento baixo e possibilidade de renovar alguns combalidos VWs, sem esquecer de que havia três pacotes diferentes para que se adaptassem a diferentes "bolsos"!
Mas a multiplicidade de expressões estava lançada, e ia "piorar"! (rsrs)
Acredito que ajudaram nessa diversificação o plural de Buggy - Buggies - e as tentativas naturais de aportuguesar a expressão, como Bugue e Buguie.
Surgiu também outra expressão, aparente consequência da fonética (som efetivo) e influência de capítulos da história brasileira:
Bugre!
Apelido - de caráter pejorativo - dado aos indígenas por alguns colonizadores europeus, no sentido de "bárbaros e não cristãos", a expressão Bugre apresenta indiscutível semelhança fonética com Buggy/Bug/Bugue/ Buguie.
Apesar da origem discutível e politicamente incorreta, o brasileiro deu uma "rasteira" no preconceito e assumiu a expressão Bugre como sinônimo de rusticidade, resistência, mestiçagem e, principalmente, respeito pelo nativo que faz parte da etnografia nacional.
Simultaneamente, e com grande efeito na popularização de mais essa expressão, uma empresa do Rio de Janeiro registra Bugre como marca.
O modelo escolhido para essa estreia, e que continua no portfólio até hoje (com pequenas alterações), também é cópia do pioneiro Manx.
Bugre I - Foto: Lexicar Brasil
Afinal, qual a expressão correta?
Buggy, Bug, Bugue, Buguie ou Bugre?
Resposta em apenas uma palavra: todas! Rsrs
Essa postagem surgiu pela natural curiosidade e, principalmente, polêmica em relação ao tema.
Alguns amigos divergem, mas, todas as expressões são democraticamente aceitas e, claro, sofrem variações regionais.
A expressão Bugre, por exemplo, é muito popular no Rio de Janeiro (acredito que em função da marca), na Bahia - testemunho pessoal - e Sul do país.
Para vocês terem uma noção, o Jornal Correio Brasiliense sé reconhece a expressão Bugre, pois está no VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa - da Academia Brasileira de Letras.
Essa é a expressão que usa em matérias do segmento, como, por exemplo: “O veículo foi solicitado pelo Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) – responsável pela administração da área –, que também disponibilizou quatro picapes, quatro quadriciclos, dois bugres e três barcos para as buscas.“
Enfim, não importa a expressão favorita de cada um, o que vale é a essência desses incríveis veículos, que "ensina", principalmente, o respeito pela diferença e diversidade!
Pessoalmente, prefiro as expressões aportuguesadas - Bugue ou Bugre - pois a indústria e design nacional são referências mundiais.
Até as caricaturas/personagens são ímpares, como no trabalho de nosso grande amigo e designer Maurício Morais! Rsrs
E viva as diferenças!